Mulheres empreendedoras do Novo Eixo: força, desafios e a potência da rede

O empreendedorismo feminino empodera, transforma realidades e gera impactos positivos para comunidades

Por Marcela Fujiy*

Empreender é um ato de coragem. Ainda mais onde as oportunidades nem sempre chegam com a mesma facilidade, como nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, que eu gosto de chamar de Novo Eixo. As mulheres dessas regiões criam negócios para sustentar suas famílias, movimentar suas comunidades e por autorrealização. Elas fazem isso desafiando um sistema que ainda impõe barreiras ao seu crescimento. A coragem se multiplica. São mulheres como dona Edwiges, que toca um mercadinho há anos em Xapuri, e como Margarete, que trabalha em uma loja de variedades em Brasiléia e em nossa conversa se imaginou pela primeira vez como dona do próprio negócio. Conheci as duas em uma viagem recente ao Acre.

Mesmo com todas as dificuldades que enfrentam, quase 90% das mulheres empreendedoras do Novo Eixo não trocariam seus negócios por um emprego com carteira assinada (CLT). É isso que aponta a pesquisa Perfil das Mulheres Empreendedoras do Novo Eixo – Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, lançada recentemente pela Be.Labs. Para elas, empreender não é apenas uma opção, mas um caminho de autonomia e transformação. Infelizmente, essa trajetória ainda é repleta de desafios, especialmente para as mulheres negras.

A realidade escancarada pelos números confirma o que já sabemos: 56,6% das empreendedoras do Novo Eixo são negras, e são justamente elas que enfrentam os maiores obstáculos para crescer: cerca de 70% nunca tiveram acesso a crédito ou financiamento especializado. O sistema financeiro não enxerga essas mulheres, mas elas seguem em movimento, inovando, criando soluções e puxando outras junto. Praticamente 80% delas financiaram os primeiros passos de seus negócios com recursos próprios.

Ampliar o acesso a crédito para mais de 10 milhões de mulheres que empreendem no Brasil é não apenas urgente, mas estratégico. Uma mulher que empreende gera renda, movimenta a economia local, inspira outras e fortalece o território onde vive. É o impacto positivo que vejo de perto todos os dias.

A força do empreendedorismo feminino está também no poder da união entre as mulheres. Elas acreditam que fortalecer as conexões entre mulheres é fundamental para o sucesso dos seus negócios. É isso que move a Claudenizia Rêgo, fundadora da Depillance, em Fortaleza, por exemplo. Ela diz que empreender, para ela, é a ponte entre o sonho e a realização – dela e de suas alunas, que transformam vidas por meio da beleza.

Turma Efeito Furacão de Alagoas, programa de capacitação da Be.Labs.

É isso também que vemos em cada turma do Efeito Furacão. Quando criamos ambientes onde as mulheres podem trocar experiências, aprender juntas e se impulsionar, os resultados aparecem. A sororidade não é só uma ideia bonita, mas uma estratégia real de crescimento. Uma mulher abre um caminho, e logo atrás vem outra, depois mais uma. São mulheres que não aceitam mais serem invisibilizadas.

O empreendedorismo feminino não é só sobre negócios. É sobre impacto, autonomia e transformação coletiva. Mas, para que essas mulheres tenham acesso real a oportunidades, o apoio precisa ser coletivo. Seguimos juntas. O que uma aprende, compartilha. O que uma conquista, abre espaço para outra. E quando uma cresce, todas crescem.


*Marcela Fujiy é embaixadora Impactos Positivos na Paraíba, fundadora e CEO da Be.Labs, um negócio de impacto social que já apoiou mais de 3.800 empreendedoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e lidera o Instituto Be.Labs (IBL). Atualmente, participa da Vital Voices Global Fellowship (VVGF) 2025. Formada em Direito, antes de fundar a Be.Labs, construiu uma carreira de 20 anos em empresas multinacionais no Brasil e na Suécia.

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